O Mito de Orfeu

Orpheus and Eurydice, 1806 , C. G. Kratzenstein-Stub

"O mito de Orfeu é um dos mais obscuros e carregados de simbolismo que a mitologia helénica conhece. Atestado desde tempos remotos, desenvolveu-se até se tornar uma verdadeira teologia em torno da qual existia uma abundante literatura, em larga medida exotérica. (…) Como as musas, Orfeu habita perto do Olimpo, onde é ligeiramente representado, cantando, vestido com os trajos dos Trácios. (…) Orfeu é o cantor por excelência, o músico e o poeta. Toca lira e «cítara», instrumento cuja invenção lhe é atribuída. (…) Orfeu sabia cantar melodias tão suaves que até as feras o seguiam, as árvores e as plantas se inclinavam na sua direção e os homens mais rudes se acalmavam. (…) O mais célebre mito protagonizado por esta personagem é o da descida aos Infernos por amor da esposa, Eurídice. Um dia, quando passeava na margem de uma ribeira da Trácia, foi perseguida por Aristeu, que a pretendia violar. Na fuga, pisou uma serpente escondida na erva, que a mordeu, causando-lhe a morte. Orfeu chorou desesperadamente e não hesitou em descer aos Infernos para a procurar. Com a sua lira, encanta os monstros e os deuses que aí habitam. Hades e Perséfone consentem em devolver Eurídice a um esposo que dá uma tal prova de amor. Mas impõe uma condição: Orfeu atingirá de novo a luz do dia, seguido da mulher, sem se voltar para trás para a ver, antes de ter deixado o reino das trevas. Orfeu aceita e pôs-se a caminho. Estava quase a ver a luz do dia, quando uma dúvida terrível lhe veio ao espírito: Persófone não o teria enganado? Logo se volta para trás e, no mesmo instante em que o fez, uma força irresistível arrastou de novo Eurídice. Em vão tenta voltar aos Infernos para a procurar, mas Caronte está agora inflexível e é-lhe recusada a entrada no mundo subterrâneo. É então obrigado a voltar para junto dos humanos, desconsolado." 

In Pierre GRIMAL, Dicionário da Mitologia Grega e Romana (tradução de Victor Jabouille), Lisboa, Difel.

*Material usado na aula de dia 2 de Dezembro de 2011.

Sem comentários:

Enviar um comentário