O Mito de Orfeu e a poesia

Orfeu Rebelde

Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade no meu sofrimento.
Outros, felizes, sejam rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.
Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.

Miguel Torga


Orpheus and Euridice, 1890, George Frederic Watts RA


Descida aos Infernos

Desço aos infernos, a descer em mim.
Mas agora o meu canto não perfura
O coração da morte,
À procura
Da sombra
Dum amor perdido.
Agora
É o repetido
Aceno
Do próprio abismo
Que me seduz.
É ele, embriaguez nocturna da vontade,
Que me obriga a sair da claridade
E a caminhar sem luz.

Ergo a voz e mergulho
Dentro do poço,
Neste moço heroísmo
Dos poetas,
Que enfrentam confiantes
O interdito
Guardado por gigantes,
Cães vigilantes
Aos portões do mito.

E entro finalmente
No reino tenebroso
Das minhas trevas.
Quebra-se a lira,
Cessa a melodia;
E um medo triste, de vergonha e assombro,
Gela-me o sangue, rio sem nascente,
Onde o céu, lá no alto, se reflecte,
Inútil como a paz que me promete.

Miguel Torga


*Deves consultar a ficha informativa distribuída na aula de dia 2 de Dezembro de 2011.

A mitologia na atualidade: O Mito de Orfeu


Excerto de um episódio da série britânica Skins, onde uma das personagens da série (Effy) lê o mito de Orfeu a partir de um livro infantil de mitologia clássica. 

* Material usado na aula de dia 2 de Dezembro de 2011.

O Mito de Orfeu

Orpheus and Eurydice, 1806 , C. G. Kratzenstein-Stub

"O mito de Orfeu é um dos mais obscuros e carregados de simbolismo que a mitologia helénica conhece. Atestado desde tempos remotos, desenvolveu-se até se tornar uma verdadeira teologia em torno da qual existia uma abundante literatura, em larga medida exotérica. (…) Como as musas, Orfeu habita perto do Olimpo, onde é ligeiramente representado, cantando, vestido com os trajos dos Trácios. (…) Orfeu é o cantor por excelência, o músico e o poeta. Toca lira e «cítara», instrumento cuja invenção lhe é atribuída. (…) Orfeu sabia cantar melodias tão suaves que até as feras o seguiam, as árvores e as plantas se inclinavam na sua direção e os homens mais rudes se acalmavam. (…) O mais célebre mito protagonizado por esta personagem é o da descida aos Infernos por amor da esposa, Eurídice. Um dia, quando passeava na margem de uma ribeira da Trácia, foi perseguida por Aristeu, que a pretendia violar. Na fuga, pisou uma serpente escondida na erva, que a mordeu, causando-lhe a morte. Orfeu chorou desesperadamente e não hesitou em descer aos Infernos para a procurar. Com a sua lira, encanta os monstros e os deuses que aí habitam. Hades e Perséfone consentem em devolver Eurídice a um esposo que dá uma tal prova de amor. Mas impõe uma condição: Orfeu atingirá de novo a luz do dia, seguido da mulher, sem se voltar para trás para a ver, antes de ter deixado o reino das trevas. Orfeu aceita e pôs-se a caminho. Estava quase a ver a luz do dia, quando uma dúvida terrível lhe veio ao espírito: Persófone não o teria enganado? Logo se volta para trás e, no mesmo instante em que o fez, uma força irresistível arrastou de novo Eurídice. Em vão tenta voltar aos Infernos para a procurar, mas Caronte está agora inflexível e é-lhe recusada a entrada no mundo subterrâneo. É então obrigado a voltar para junto dos humanos, desconsolado." 

In Pierre GRIMAL, Dicionário da Mitologia Grega e Romana (tradução de Victor Jabouille), Lisboa, Difel.

*Material usado na aula de dia 2 de Dezembro de 2011.

O cinema e a mitologia: A deusa Vesta


 The Fall of the Roman Empire, Anthony Mann, 1964


Excertos do filme The Fall of the Roman Empire (A Queda do Império Romano) onde Lucilla, uma personagem feminina, se dirige, por duas vezes, à deusa Vesta, deusa do lar.

Podes visionar o trailer do filme aqui
* Material usado na aula de dia 2 de Dezembro de 2011, a propósito do texto Venvsta Sempronia (página 88 do Manual).